terça-feira, 6 de novembro de 2012

A FÉ QUE MOVE A FESTA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO


O sentido racional que o ser humano pretende dar ao mundo, muitas vezes é invadido por uma pequena palavra, ampla de significado: a fé. O que é fé? Como explicar este fenômeno mais que humano? Talvez a melhor maneira de entender este sentimento seja se aproximar dele. A sensação da fé é contagiante, tanto que mesmo os incrédulos se alimentam da sua força em momentos de comunhão. É quase inverossímil a possibilidade de uma pessoa que não tenha sido invadida por esta sensação pelo menos uma vez na vida. Quando desejamos muito alguma coisa, nos enchemos de esperança no “tudo vai dar certo”, nos imbuímos de fé. A torcida por uma conquista, seja ela qual for, é uma atitude de fé. A fé não é necessariamente um sentimento religioso, mas uma sensação para lá de humana.

No Serro, percorrer os caminhos da fé é deixar-se levar pelos cânticos e sonoridades da Festa de Nossa Senhora do Rosário. O Ekos de Minas mergulhou neste singular universo em muito boa companhia. A condutora da viagem rumo aos sentimentos desta manifestação mais que tradicional, histórica, foi Maria do Rosário Reis Simões, a historiadora Zara Simões, que tem seu nome vinculado a Nossa Senhora do Rosário e uma vivência concreta da fé em Nossa Senhora, já que é irmã do Rosário e participa sempre da Festa. Em sua tese de pós-graduação, Zara Simões escreveu sobre “A Fé que move a Festa, a Festa que move a Fé”, e resumiu nesta frase a singularidade desta manifestação cultural e religiosa: o paradoxo sobre a fé que faz com que a Festa seja realizada todos os anos, apesar da sua dimensão, e a contribuição da Festa para a manutenção da fé em Nossa Senhora do Rosário. A intenção de Zara Simões é a inspiração deste relato. Outros participantes da “Expedição Rosário” são o produtor Carlos Paulino, o irmão do Rosário Paulo Sérgio Torres Procópio e o fotógrafo Luiz Lopes - que emprestaram seu olhar ao Ekos de Minas; a russa Marina Kosinova, que experimentou  com convicção  os sabores da Festa, a pequena Érika Kosinova e Jane Reis  Simões.
O Catopê Sebastião Ramos e Zara Simões: “Eu não largo, não largo nunca,
só depois que eu morrer. Nossa Senhora do Rosário é nossa mãe”:
fala de Sebastião sobre a sua participação na Festa. 




Preparação 
Fé, devoção, expectativa, introspecção. Quando começa a festa de Nossa Senhora do Rosário no Serro? Aos mais desavisados, pode-se responder que é no primeiro domingo de julho. Mas ela começa ser gestada, mesmo, enquanto esta acontecendo. Festeiros são confirmados, encontros combinados, ideias de devoção e adoração a Nossa Senhora ressoam nas breves palavras da pressa em organizar as mesas e desejos. A Festa não para de ser preparada. Ela ocupa o imaginário e a vida das famílias que se envolvem  em sua realização, durante todo o ano. 
A Festa envolve a preparação de almoço na casa dos homens (Rei, 1º e 2º Juízes) e jantar na casa das mulheres (Rainha, 1ª e 2ª Juízas), no domingo para servir em média mil pessoas por refeição, segundo estima a rainha da Festa em 2012, Rosilene Rabelo. “O cardápio, cada um faz um diferente, mas o que não pode faltar é uma comida bem feita. Eu já vi muita coisa, e a gente procura fazer tudo do jeito que a gente já viu para manter a tradição”, explica Rosilene. Apenas na casa da Rainha, para a preparação do banquete, o Chefe de Cozinha Ronaldo Coelho Paulista estima que cozinhou cerca de 40 quilos de arroz, 20 quilos de macarrão, 35 quilos de feijão, sem contar legumes e verduras. “A carne nem dá para quantificar”, ressalta Ronaldo. “Para fazer comida para tanta gente é preciso amor e tempero. Levantar cedo, beber menos e se dedicar. Se eu vier para a Festa do Rosário e não for para a cozinha não vale”, conta o Chefe.
E a comilança não para por aí. Na segunda-feira é o dia dos doces. Para se ter uma ideia, apenas na casa do 1º Juiz, Lucas Diogo Farnezi Silva, e da 1ª Juíza, Rosimeire Margarida da Silva, este ano, para a preparação de parte dos doces - já que também são feitos os tradicionais doces de frutas - foram utilizadas mais de 50 latas de 1kg de leite condensado.  
Mesa de doces do 2º Juiz e 2ª Juíza


A Festa
São cinco horas da manhã de sábado, dia 30 de junho de 2012. No adro da Igreja dedicada a Nossa Senhora do Rosário, no Serro, a comunidade pede licença para abrir as portas da Festa em homenagem à Santa. Os gemidos dos negros cativos ecoam do pífaro e tambores da Caixa de Assovios e anunciam que é o momento de seguir a tradição, firmada pelo "Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rozário na Freguezia da Conceyção da Villa do Príncipe do Sêrro do Frio no Anno de 1728". 
As luzes estão apagadas e as portas da Igreja, fechadas. A Caixa de Assovio entoa sua "Ave Maria" por três vezes e por três vezes repicam os sinos e gritam os fogos de artifício na madrugada, contando aos que ficaram em suas casas que agora a Festa vai começar. As portas da Igreja e da Festa se abrem, as luzes se acendem e a Caixa de Assovios toca diante do altar: Nossa Senhora ofereceu simbolicamente a sua permissão para iniciar a Festa. “O principal da Festa é a Caixa de Assovios. Não porque eu sou o responsável, mas porque sempre foi assim. Todo ano a gente tem que estar na porta da igreja às cinco horas em ponto. Tudo que passar por perto ou certo ou errado, dou noticia. E se errar eu chamo a atenção. Todo mundo me respeita, mas não aceito qualquer pessoa para participar dessas coisas, porque é um compromisso”, ressalta Jadir Pereira da Fonseca, o Jadir Canela, tocador de pífaro e organizador da Caixa de Assovios.
Matina na Igreja do Rosário
Jadir Canela
“Ave Maria, Ela canta lá no céu. Ave Maria, Ela canta lá na Glória”: cânticos enfeitam as ruas do Serro na voz convicta e aguda de Dona Cesárea, e nos acordes acometidos de emoção dos coros e vozes dos Catopês. A ginga e mandinga dos filhos de Nossa Senhora do Rosário saem da Igreja e tomam o caminho das casas da Rainha, Rei, Juízes para anunciar a permissão concedida. Os festejos podem seguir com as bênçãos de Nossa Senhora. 
Então começa a fartura. Na casa dos festeiros, esperam e recebem o cortejo banquetes dignos de reis e rainhas. Na Matina, caldos, canjica, quitandas, toda a sorte de temperos alimenta a fome e os pecados de uma multidão afoita, que mal se contem para esperar que os donos da casa recebam as bênçãos pela comida ofertada e anunciem a liberação da mesa. Sacos, sacolas, bolsas, recipientes os mais diversos servem para armazenar a provisão da Santa, que deve durar, pelo menos, o limite de uma indigestão. E segue o cortejo: Primeiros Juiz e Juíza, comer, guardar, comer; Segundos Juiz e Juíza, comer mais, guardar mais, comer mais; Rainha, comer, guardar, comer, guardar e, finalmente, a casa do Rei, mais sacolas e bocas invadem a Festa.
Jantar na casa do 1ºJuiz e 1ª Juíza

O sem fim de comidas da Matina chega, enfim, aos descendentes de José Nunes Mourão, conhecido como Zé de Fina, e Guido Morais Costa, o Guido do Corte. Aqui imperam, por principio, os sacos e sacolas. A Festa é das cestas básicas, da carne, roupas e outros itens arrecadados e doados a quem se interessar em enfrentar a grande fila, que dobra os limites do casarão da Pousada Dona Tuca, onde acontece a doação (foto abaixo). Segundo Glorinha Mourão Orsini, filha de Zé de Fina, esta tradição começou quando seu pai foi Mordomo do Mastro, há mais de 50 anos, e decidiu levar a fartura da Festa de Nossa Senhora do Rosário para a mesa das pessoas menos favorecidas economicamente.  Carlos Roberto Nunes Leite, sobrinho de Glorinha, conta que a tradição de distribuir alimentos durante a Festa do Rosário, começou porque Zé de Fina encontrou uma pedra de diamante muito valiosa e, para agradecer a bênção, se propôs a doar a carne de um boi para as pessoas mais humildes. As duas versões levam ao Guido do Corte, dono de açougue na época, escolhido para providenciar o feito. Guido se propôs a dividir o boi e assim começou a fartura. Hoje, Marcelo Morais Costa, filho de Guido, assumiu a função de seu pai e Glorinha segue a tradição de Zé de Fina, e juntos mantém a distribuição de alimentos. “Faço como meu pai, fico na mesma posição que o meu pai. Corto a carne para ser distribuída”, se orgulha Marcelo, que contabiliza que, apenas este ano, foram distribuídos 900kg de carne (três bois) e mais de 1400kg de mantimentos e ainda roupas, brinquedos, balas, cobertores. 
Fila para a distribuição de donativos

À noite, é hora de outro festeiro, o Mordomo do Mastro, saudar Nossa Senhora - este ano os Mordomos foram Vagner Alexandre Santos e Fernando dos Santos. Na Igreja, a oração dos fieis renova a esperança e confirma a fé, enquanto os dançantes - que se apresentam sem as vestimentas - rumam à casa do Mordomo para buscar a Bandeira dedicada a Nossa Senhora. O cortejo retorna à Casa Santa e a Bandeira recebe as bênçãos do Vigário para então subir ao mastro, cravado no Largo do Rosário. A devoção e alegria das danças enfeitam o ritual, que é encerrado com fogos de artifícios.

As cores do Rosário
Alimento para a retina - que registra e inspira lembranças multicoloridas -, o domingo é o dia da apresentação dos Congados. Caboclos vermelhos, salpicados de cores, dançam a integridade e leveza dos índios. Sisudos Catopês acompanham o Reinado ao som da Caixa de Assovios, em cortejo suave e sublime, próprio dos que alcançaram a sabedoria. Marujos com espadas e soberba anunciam a chegada das esquadras portuguesas. 
Marujos

Caboclos

É também no domingo, que Caboclos e Marujos encenam a Embaixada, um ritual de encontro entre grupos rivais, que devolvem o caciquinho ou o gajeiro preso, como sinal de paz entre brancos e índios, que agora compartilham o mesmo território. É a união das raças: índios, brancos, negros - Caboclos, Marujos, Catopês. 

Despedida
Amanhece a segunda-feira dedicada ao segundo reinado, ou seja, é o dia da posse dos festeiros eleitos entre os irmãos do Rosário para conduzirem a festa no ano seguinte. O processo de eleição dos festeiros merece um aparte. É realizado no mês de maio e a escolha entre os candidatos ainda é realizada segundo a tradição: os votos são contabilizados com grãos, cada irmão apresenta sua escolha com uma semente, feijão para um, milho para outro e assim por diante. 
Segunda é também o dia dos doces: doce de leite colorido, doce de mamão, bombom, brigadeiro, cajuzinho, olho de sogra, bala delicia... e sacolas e sacos, muitas sacolas e sacos - deve haver os que passam pelo menos uma semana a doce!  É neste dia que os festeiros entregam aos escolhidos, para manter a tradição no ano seguinte, os símbolos do Juiz, a Vara; do Rei e da Rainha, a Coroa e o Cetro. A despedida é na Igreja do Rosário. E então é possível entender o poder, a força desta manifestação, que impõem ao rigor católico, a encenação de danças, cânticos e rituais outrora considerados pagãos: “Adeus campo do Rosário terreiro de sentimento, Adeus minha virgem Santa, esposa de São José. Até, até para o ano, se Deus Nosso Senhor quiser”.


A primeira Festa que Ildeu Rabelo (foto acima) participou foi aos sete anos. Levado pelo avô Jacinto Barão, Dedeu - como é conhecido -  foi Marujo. “Cantava muito e fazia a Rezinga. É até bonito. Hoje ninguém faz isso mais. Antigamente Caboclo e Marujo não acertava de jeito nenhum. Coisa de dança mesmo. Depois que passei a Caboclo e dançava Marujo, a gente vira outra pessoa. Tenho minha espada, mas não posso manejar ela”, conta Dedeu.  Hoje, 70 anos depois, Dedeu passou o capacete para o filho Roberto Rabelo (foto abaixo), mas participa ativamente da Festa. “Agora estou muito velho, a saúde não permite mais. A força, é só pedir a Nossa Senhora”, agradece.  O filho Roberto diz que Dedeu “já era Caboclo e tentava ser Marujo, mas não dava certo. Se pegar a espada... Nossa Senhora! Meu pai sempre foi Caboclo. O Caboclo encarna Caboclo. A gente nasce Caboclo”.



Dona Stael Farnezi Silva sempre participa dos preparativos da Festa quando a família ou amigos são festeiros: “Sou muito ligada a esta Festa. Só de saber que a gente vai alcançar uma graça muito grande, vale tudo. Já fui 1ª Juíza e Rainha com o meu filho (Renato Amilton da Silva). A devoção do meu marido era tão grande que ele fez um Rosário, que hoje fica em destaque na Igreja. Vocês nem imaginam quantas graças já alcançamos com Nossa Senhora”.


Maria de Fátima Pacheco da Silva participa da Festa, há 20 anos, sempre que alguém da família é festeiro ela está pronta para ajudar na preparação. “A festa é muito pesada, tem que fazer muita coisa, e a gente faz tudo sem saber para quantas pessoas. A gente sempre calcula para muita gente, umas duas mil pessoas. Fiquei muito feliz de ser festeira. Nossa Senhora ajuda a gente muito”. Este ano, foi segunda juíza, ao lado do filho Alex Reginaldo da Silva, que foi segundo juiz: “A sensação de dever cumprido depois da Festa traz muita alegria”.


Omar José dos Santos  não nasceu no Serro, mas encontrou na Festa a sua devoção a Nossa Senhora do Rosário: “Nossa Senhora do Rosário está no coração e no sangue. Sou caboclo há 30 anos. Eu vim uma vez aqui e nunca mais deixei de dançar. A gente sempre dá um jeito de vir”. 

“Vou dançar tão bonito para Nossa Senhora, que Ela vai até chorar”. Esta frase é de um pequeno caboclinho de Nossa Senhora do Rosário, Pedro Henrique Rabelo Paulista, de apenas 5 anos. Segundo a avó Alice Rabelo, esposa de Ildeu Rabelo, ele é o bisneto do lendário caboclo José Rabelo que deve herdar a flecha do ancestral. 

A Rainha Rosilene Rabelo conta que para organizar a Festa é preciso “muita luta. É luta, mas com esta luta, estou muito feliz. A gente fica preocupada demais, para tudo dar certo. É uma coisa de coração, não tem como explicar. É uma lição de vida. Já vi muita coisa, tenho mais de 40 anos de Festa, comecei a participar com sete anos. Sem a união da família e dos amigos, não tem Festa. As mulheres na Festa do Rosário são tudo. Os homens vão fazer o bonito que é dançar e mostrar o que é o Congado da Festa do Serro, mas as mulheres é que fazem tudo: cozinhar, cuidar, limpar, organizar”.
Joviano Roberto Pedro da Costa é neto de Vicente Violeiro, que foi chefe dos Catopês, e filho de Maria da Conceição Alves Costa, a Maria Boneca. Ele já acompanhava os Catopês aos quatro anos de idade, ao lado da mãe. Depois foi Marujo por três anos e resolveu que era Caboclo. Este ano experimentou ser Rei do Rosário em homenagem à sua mãe: “Deus quis levar ela e eu cumpri com o compromisso de minha mãe”. 

A 1ª Juíza este ano, Rosimere Margarida da Silva, filha de Dona Stael, conta que a devoção a Nossa Senhora do Rosário “é uma fé que vem dos avós, e passou para os pais e a gente vem seguindo. A gente faz isto mesmo pela fé. Quando a gente não vem para a Festa, parece que o ano não passou. O ano inteiro o nosso pensamento está voltado para a Festa, em maio já estamos nos preparando para vir. É uma tradição histórica, mas também de família, se as famílias não se envolvessem não haveria prosseguimento. A comunhão da Festa também ajuda na união da família e mesmo dos amigos. Este ano tive a oportunidade de fazer a Festa pela primeira vez, para agradecer a uma graça alcançada. São muitas bênçãos. Não daria mesmo para descrever”.


Rosana Rabelo (à direita), filha de Ildeu Rabelo, conta que este ano reformou a roupa do Caboclo José Rabelo para o seu pai: “Montei a roupa do meu avô todinha e pus meu pai bonito. Ele ficou tão feliz com a roupa dele. E passou a roupa dele para o filho, Roberto. É uma tradição, um vai passando para o outro”.
Sônia Martins Rabelo (à esquerda), esposa do Caboclo Marcos Rabelo, é a responsável pelas roupas e alimentação do marido, três filhos e três netos, que são Caboclos de Nossa Senhora do Rosário. “Faço a roupa do marido, dos filhos e dos netos, todo ano. A cozinha também é nossa. É muita fé, carinho, alegria para dar conta de tudo. Não posso faltar, tenho que vir, para ajudar os meninos a se vestirem, preparar comida para eles saírem”.

A neta de Efigênio Augusto da Silva, que foi fundador e Presidente da Associação de Congados da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, Roselane Andrea da Silva acredita que “os meninos parece que já nascem sabendo dançar, já nascem Caboclo. Todo ano a gente vem para a Festa, cai na lida do fazer. Se falhar a gente perde o rumo. Nossa Senhora do Rosário é que nos guia. Minha filha perguntou: - Mamãe, mas a Rainha também trabalha? É a que mais trabalha, Rainha que não trabalha é a do conto de fadas”.
Maria de Lourdes Silva, conhecida como Dona Cesárea, vivencia a tradição do Rosário há mais 50 anos. “Eu sempre acompanhava a Festa, mas não dançava. Agora tá com 20 anos que sou a Rainha do Congado. Nossa função é agradecer as mesas e organizar os Catopês na rua. A festa para mim é uma emoção, é muita paixão, muito amor que eu sinto. Quando eu entro na Igreja que eu canto, eu não sei... Se houver céu, estou entrando no Céu. Eu olho para Ela e parece que Ela está olhando para mim e rindo. É a única Festa que eu vou, que eu canto e tenho prazer, aquela alegria toda. Tenho muita paixão com os Catopês. Meu marido morreu na Festa, meu filho morreu na Festa. Meu marido dançou - a Festa ainda era dia 29 de julho - e no dia 30 ele adoeceu e não voltou mais para o segundo reinado. Quando foi dia 9 de setembro, ele morreu. Meu filho, a mesma coisa, dançou, fez 49 anos no dia 30 de julho, acabou a Festa, morreu 15 dias depois da Festa. Eu nasci nesta Festa e vou morrer na Festa, se Deus quiser”.

Florita Dias de Andrade, já passou dos cem anos e quase não sai mais de sua casa, mas não pode perder as celebrações da Festa de Nossa Senhora do Rosário. Segundo sua neta, Rosilda Dias Pereira, ela sempre escolhe um dos netos para levá-la e não adianta fugir do compromisso, o escolhido é o único que ela permite acompanhá-la. “Minha avó é devota de Nossa Senhora e acredita muito no poder da Santa, como a maioria das pessoas mais idosas, que tem uma fé muito grande. Quando ela morava na roça, era a única festa que a trazia à cidade”, conta Rosilda.