terça-feira, 6 de novembro de 2012

A primeira Festa que Ildeu Rabelo (foto acima) participou foi aos sete anos. Levado pelo avô Jacinto Barão, Dedeu - como é conhecido -  foi Marujo. “Cantava muito e fazia a Rezinga. É até bonito. Hoje ninguém faz isso mais. Antigamente Caboclo e Marujo não acertava de jeito nenhum. Coisa de dança mesmo. Depois que passei a Caboclo e dançava Marujo, a gente vira outra pessoa. Tenho minha espada, mas não posso manejar ela”, conta Dedeu.  Hoje, 70 anos depois, Dedeu passou o capacete para o filho Roberto Rabelo (foto abaixo), mas participa ativamente da Festa. “Agora estou muito velho, a saúde não permite mais. A força, é só pedir a Nossa Senhora”, agradece.  O filho Roberto diz que Dedeu “já era Caboclo e tentava ser Marujo, mas não dava certo. Se pegar a espada... Nossa Senhora! Meu pai sempre foi Caboclo. O Caboclo encarna Caboclo. A gente nasce Caboclo”.



Dona Stael Farnezi Silva sempre participa dos preparativos da Festa quando a família ou amigos são festeiros: “Sou muito ligada a esta Festa. Só de saber que a gente vai alcançar uma graça muito grande, vale tudo. Já fui 1ª Juíza e Rainha com o meu filho (Renato Amilton da Silva). A devoção do meu marido era tão grande que ele fez um Rosário, que hoje fica em destaque na Igreja. Vocês nem imaginam quantas graças já alcançamos com Nossa Senhora”.


Maria de Fátima Pacheco da Silva participa da Festa, há 20 anos, sempre que alguém da família é festeiro ela está pronta para ajudar na preparação. “A festa é muito pesada, tem que fazer muita coisa, e a gente faz tudo sem saber para quantas pessoas. A gente sempre calcula para muita gente, umas duas mil pessoas. Fiquei muito feliz de ser festeira. Nossa Senhora ajuda a gente muito”. Este ano, foi segunda juíza, ao lado do filho Alex Reginaldo da Silva, que foi segundo juiz: “A sensação de dever cumprido depois da Festa traz muita alegria”.


Omar José dos Santos  não nasceu no Serro, mas encontrou na Festa a sua devoção a Nossa Senhora do Rosário: “Nossa Senhora do Rosário está no coração e no sangue. Sou caboclo há 30 anos. Eu vim uma vez aqui e nunca mais deixei de dançar. A gente sempre dá um jeito de vir”. 

“Vou dançar tão bonito para Nossa Senhora, que Ela vai até chorar”. Esta frase é de um pequeno caboclinho de Nossa Senhora do Rosário, Pedro Henrique Rabelo Paulista, de apenas 5 anos. Segundo a avó Alice Rabelo, esposa de Ildeu Rabelo, ele é o bisneto do lendário caboclo José Rabelo que deve herdar a flecha do ancestral. 

A Rainha Rosilene Rabelo conta que para organizar a Festa é preciso “muita luta. É luta, mas com esta luta, estou muito feliz. A gente fica preocupada demais, para tudo dar certo. É uma coisa de coração, não tem como explicar. É uma lição de vida. Já vi muita coisa, tenho mais de 40 anos de Festa, comecei a participar com sete anos. Sem a união da família e dos amigos, não tem Festa. As mulheres na Festa do Rosário são tudo. Os homens vão fazer o bonito que é dançar e mostrar o que é o Congado da Festa do Serro, mas as mulheres é que fazem tudo: cozinhar, cuidar, limpar, organizar”.
Joviano Roberto Pedro da Costa é neto de Vicente Violeiro, que foi chefe dos Catopês, e filho de Maria da Conceição Alves Costa, a Maria Boneca. Ele já acompanhava os Catopês aos quatro anos de idade, ao lado da mãe. Depois foi Marujo por três anos e resolveu que era Caboclo. Este ano experimentou ser Rei do Rosário em homenagem à sua mãe: “Deus quis levar ela e eu cumpri com o compromisso de minha mãe”. 

A 1ª Juíza este ano, Rosimere Margarida da Silva, filha de Dona Stael, conta que a devoção a Nossa Senhora do Rosário “é uma fé que vem dos avós, e passou para os pais e a gente vem seguindo. A gente faz isto mesmo pela fé. Quando a gente não vem para a Festa, parece que o ano não passou. O ano inteiro o nosso pensamento está voltado para a Festa, em maio já estamos nos preparando para vir. É uma tradição histórica, mas também de família, se as famílias não se envolvessem não haveria prosseguimento. A comunhão da Festa também ajuda na união da família e mesmo dos amigos. Este ano tive a oportunidade de fazer a Festa pela primeira vez, para agradecer a uma graça alcançada. São muitas bênçãos. Não daria mesmo para descrever”.


Rosana Rabelo (à direita), filha de Ildeu Rabelo, conta que este ano reformou a roupa do Caboclo José Rabelo para o seu pai: “Montei a roupa do meu avô todinha e pus meu pai bonito. Ele ficou tão feliz com a roupa dele. E passou a roupa dele para o filho, Roberto. É uma tradição, um vai passando para o outro”.
Sônia Martins Rabelo (à esquerda), esposa do Caboclo Marcos Rabelo, é a responsável pelas roupas e alimentação do marido, três filhos e três netos, que são Caboclos de Nossa Senhora do Rosário. “Faço a roupa do marido, dos filhos e dos netos, todo ano. A cozinha também é nossa. É muita fé, carinho, alegria para dar conta de tudo. Não posso faltar, tenho que vir, para ajudar os meninos a se vestirem, preparar comida para eles saírem”.

A neta de Efigênio Augusto da Silva, que foi fundador e Presidente da Associação de Congados da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, Roselane Andrea da Silva acredita que “os meninos parece que já nascem sabendo dançar, já nascem Caboclo. Todo ano a gente vem para a Festa, cai na lida do fazer. Se falhar a gente perde o rumo. Nossa Senhora do Rosário é que nos guia. Minha filha perguntou: - Mamãe, mas a Rainha também trabalha? É a que mais trabalha, Rainha que não trabalha é a do conto de fadas”.
Maria de Lourdes Silva, conhecida como Dona Cesárea, vivencia a tradição do Rosário há mais 50 anos. “Eu sempre acompanhava a Festa, mas não dançava. Agora tá com 20 anos que sou a Rainha do Congado. Nossa função é agradecer as mesas e organizar os Catopês na rua. A festa para mim é uma emoção, é muita paixão, muito amor que eu sinto. Quando eu entro na Igreja que eu canto, eu não sei... Se houver céu, estou entrando no Céu. Eu olho para Ela e parece que Ela está olhando para mim e rindo. É a única Festa que eu vou, que eu canto e tenho prazer, aquela alegria toda. Tenho muita paixão com os Catopês. Meu marido morreu na Festa, meu filho morreu na Festa. Meu marido dançou - a Festa ainda era dia 29 de julho - e no dia 30 ele adoeceu e não voltou mais para o segundo reinado. Quando foi dia 9 de setembro, ele morreu. Meu filho, a mesma coisa, dançou, fez 49 anos no dia 30 de julho, acabou a Festa, morreu 15 dias depois da Festa. Eu nasci nesta Festa e vou morrer na Festa, se Deus quiser”.

Florita Dias de Andrade, já passou dos cem anos e quase não sai mais de sua casa, mas não pode perder as celebrações da Festa de Nossa Senhora do Rosário. Segundo sua neta, Rosilda Dias Pereira, ela sempre escolhe um dos netos para levá-la e não adianta fugir do compromisso, o escolhido é o único que ela permite acompanhá-la. “Minha avó é devota de Nossa Senhora e acredita muito no poder da Santa, como a maioria das pessoas mais idosas, que tem uma fé muito grande. Quando ela morava na roça, era a única festa que a trazia à cidade”, conta Rosilda.

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