Numa sociedade inquietante, que busca o positivo a toda força, falar do não talvez seja coisa incomum. No pronto do quotidiano, onde as efervescências oferecem o mais fácil, expor o NÃO talvez não faça sentido. Contudo, o NÃO é uma cortesia usada quando nos pedem alguma coisa, e que significa não podermos deixar de concedê-la. O NÃO me conscientiza a amadurecer o sim, a personificá-lo, emudecê-lo, para atuar-mos com mais responsabilidade. Já nos diz Machado de Assis: “Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito”.
O NÃO nos valoriza, autentificando nossa maneira de agir, controlando nossa personalidade, presenteando-nos com mais sensibilidade o eu. Por essa negativa ou recusa sei onde está meu começo e meu fim. Posso perseverar em minhas ações identificando com mais clareza meu objetivo e onde quero chegar. Na verticalidade da minha palavra o não me lisonjeia a superar esta ou aquela adversidade. Quando recebo um não num inicio pode doer ou trazer desconfortantes momentos, mas posso aprender, depois, grandes lições.
O NÃO oferece a grande metodologia ao limite. Por meio dele, sei onde posso ir e ver o espaço do outro no qual devo respeitar. A dor do não de hoje pode ser a alegria do sim de amanhã. Já nos diz Pedro M.C. Costa: “Não amar é sofrer, amar é sofrer mais”. Em cada ação, atitude ou qualquer coisa que eu faça, tenho duas opções o sim ou o não para responsabilizar o que devo ou não fazer. O NÃO é a primazia da realidade sobre a formula onde coloco toda a minha vontade nesse tempero tão importante para a nossa existência.
Quem não dá o devido valor a esse exprimir de negação, o não, pode cair em armadilhas que podem trazer seqüelas para a vida inteira. Haja vista o excesso de liberdade, o tudo pode para o agora. Quantas vidas existem em nossa sociedade sofrendo com histórias, as mais ricas de conteúdo e dor, devido ao NÃO ser respeitado um dia. Já nos alenta Fernando Henrique Souza: “Pior que amar e não ser correspondido é amar e ser esquecido”. O não jamais é a impossibilidade de me afirmar, é um aviso, um alerta que desperta em mim uma afirmação na qual posso tirar muito lucro para o meu futuro.
O não me presenteia com as mais vivas forças da prudência. Amadurece minha personalidade. Enriquece meus sentimentos e valoriza as vontades do meu coração. Usando esta cortesia estou superando um grande princípio que me pode levar ao sofrimento. Quantos casos são conhecidos em nossa sociedade. Por causa de se desprezar um não e se aventurar num sim quantas lágrimas são derramadas, alimentando ódios, rancores e lembranças que o tempo jamais apaga. Vamos valorizar o não em nossa vida. Façamos do não uma âncora para prestigiarmos nossas vontades que estão embutidas em nossa liberdade. Pensemos nisso.
Cônego Dr. Manuel Quitério de Azevedo é bacharel em Filosofia pela USP e em Teologia; pós graduado em Docência do Ensino Superior; Mestre e Doutor em Teologia. É professor no Seminário Provincial Sagrado Coração de Jesus e na PUC- Minas, Campus Serro. Autor de vários artigos publicados em diversos jornais e nos sites www.cnbbleste2.org.br ; www.diamantina.com.br ; www.bispado.org.br ; www.portalgouveia.com.br
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