quinta-feira, 22 de setembro de 2011


IDAS E VINDAS NOS CAMINHOS DE MINAS

Lá do alto da Caroula vejo bem aquela estrada, passa boi, passa boiada, passa toda meninada, passa... carreta? Passa uma, passam duas, passam três… passam dez? Passam 20? “Sem brincadeira ou exagero, moço, acabaram de passar umas 50 carretas aqui agora”, responde um morador do bairro Machadinho, na saída do Serro para Conceição do Mato Dentro, quando perguntado sobre a condição da MG-10.

Este exemplo aconteceu às 18 horas, de uma quinta-feira de agosto, e é confirmado pelo empresário José Beato Campos Maciel, proprietário de uma oficina especializada em motores agrícolas na mesma região. José Beato afima que diariamente cerca de 30 carretas seguem pela MG-10 rumo à empresa Anglo Ferrous Brazil - que engloba as operações de mineração vendidas pela MMX à Anglo American. O empresário conta que utiliza a estrada em media três vezes na semana, já que tem clientes na região do distrito serrano de Vila Deputado Augusto Clementino, conhecido como Mato Grosso. “A estrada está péssima, muita poeira e buracos, com o agravante de que as carretas que transitam aqui não cedem passagem”, declara. O morador do Bairro Machadinho, Sebastião de Jesus, ressalta que o trânsito intenso de carretas amedronta a população: “Os caminhões passam em grande quantidade e rápido”.

E o que transportam todas estas carretas? Equipamentos e materiais necessários à montagem do Projeto Minas-Rio, da Anglo American, que inclui uma mina de minério de ferro em Conceição do Mato Dentro e uma unidade de beneficiamento em Alvorada de Minas (MG). O projeto tem capacidade de produção estimada em 26,5 milhões de toneladas anuais de minério, que será escoada por um mineroduto de 525 km de extensão, ligando a mina em Conceição do Mato Dentro ao Porto Açu, em São João da Barra (RJ).

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Anglo Americam informou que, desde 2010, promove ações de manutenção da MG-10, como terraplenagem, correção do solo e umectação das vias do Serro, para reduzir a poeira provocada pelo tráfego de caminhões. A manutenção inclui, ainda, cascalhamento e capina.

Danielle Campos, professora em Mato Grosso, onde fica a Serra do Caroula, citada no inicio da matéria, enfrenta a MG-010 duas vezes por semana para dar aulas. A professora relata que a estrada “está poeira pura e muito movimentada. A comunidade de Mato Grosso está cansada de promessas, de poeira e de correr risco de morte”, desabafa. O marido de Danielle, o também professor Humberto Orlandi, foi uma das vítimas da falta de estrutura da MG-010. Em junho deste ano, a motocicleta que ele conduzia, a caminho de Mato Grosso, bateu de frente com uma caminhonete, e o professor teve a perna esquerda amputada. “Tinha acabado de ultrapassar um carro e, numa curva, a caminhonete veio em minha direção. Acho que o motorista teve a visibilidade comprometida pela poeira”, diz.

Esperança
No dia 11 de setembro, o Vice-Governador do Estado, Alberto Pinto Coelho, esteve no Serro para autorizar o início das obras de asfaltamento da MG-010, entre o Serro e o entroncamento de Dom Joaquim. O trecho de 46 km terá investimento de R$ 41 milhões, sendo que a mineradora Anglo American se comprometeu a repassar R$ 10 milhões ao Governo do Estado para serem aplicados nas obras. O anúncio trouxe esperança e alívio para a serrana Maria Amélia Cunha, que publicou no Planerta Serro - uma página de relacionamentos na Internet - a certeza de que a obra vai garantir a melhoria do tráfego na estrada, com segurança e conforto, e a redução de 100 km no trajeto asfaltado entre Serro e Belo Horizonte. “O momento é histórico para todos nós que há muito sonhamos com a pavimentação deste trecho da MG-010. É importante testemunhar este momento, quiçá o marco do início de um novo tempo para o Serro”, comemora.
Maria Amélia é uma das grandes incentivadoras do Planeta Serro, um grupo virtual criado no Facebook pela também serrana Maria das Dores Costa, em janeiro deste ano, “para bater papo, trocar fotos e matar saudades do Serro”, já que vive há mais de 20 anos em Nova York, EUA. O Planeta Serro representou esta esperança em uma campanha que angariou mais de 4,5 mil assinaturas, em apenas 40 dias, para um abaixo assinado entregue ao Governador do Estado, Antônio Augusto Junho Anastásia, em agosto. Maria das Dores conta que a adesão à proposta extrapolou os limites da Internet e concretizou-se em assinaturas também no papel. Ela ressalta a colaboração de Jair dos Santos, um dos voluntarios na coleta de assinaturas, que sozinho conseguiu cerca de 2,7 mil assinaturas “de porta em porta no Serro”.
O advogado Wilson Ursine, morador do Serro, acredita que o asfalto será uma realidade em breve, e que a MG-010 deve se tornar um importante eixo de desenvolvimento e integração regional. “O asfalto pode trazer maior interesse turístico pelo Serro”, aponta.


Anel Rodoviário

Uma das obras complementares ao asfaltamento da MG-10 é a construção do Anel Rodoviário do Serro, um investimento esperado há pelo menos quatro anos, quando a MMX assinou convênio com a Prefeitura do Serro e o DER-MG para a execução das obras. A Anglo está construindo o Anel, mas, segundo Maurício de Araújo Costa - que deverá receber obras em sua propriedade -, o projeto foi concluído há mais de três meses e providencias, como a indenização dos proprietários, ainda não foram realizadas. Maurício teme que as obras não sejam concluídas. “A estrada vai passar a 20 metros da minha casa. Faz tempo que o processo começou e ainda não temos nada concreto. No passo em que o projeto está sendo executado, tenho o receio de que fique apenas na terraplenagem. Se isso acontecer vou ter que mudar da minha casa por causa da poeira”, ressalta .

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