segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

TEÓFILO OTTONI: HISTÓRIA QUE VEM DO SERRO!

Quem foi mesmo este Teófilo Ottoni? Deve ser importante porque tem até nome de cidade! É assim que o brasileiro comum costuma se referir à memória de seu país. E não é por desleixo, não, é pura luta pela sobrevivência. Conhecimento precisa de ócio. Não dá para conhecer sem ter tempo para escarafunchar livros, escritos, Internet e outros bichos. Tudo isso sem grana e depois de um dia daqueles, definitivamente não dá. Fica a cargo da escola transmitir o que não é possível experimentar espontaneamente... bom, já deu para entender porque muitas vezes existe um amplo desconhecimento dos fatos e histórias que rondam a singularidade brasileira.
Mas por que falar de Teófilo Ottoni? É bastante oportuno, já que no dia 28 de novembro deste ano foi realizada, no Serro, Minas Gerais, a cerimônia de entrega da Comenda Teófilo Ottoni a 30 brasileiros indicados em 2011 e outros quatro indicados em anos anteriores. Instituída pelo Governo de Minas em agosto de 2007 - ano em que foi comemorado o bicentenário de nascimento do libertário -,  a honraria presta homenagem a personalidades ou instituições que “contribuem com o desenvolvimento político, cultural, econômico e social das regiões dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri, Norte e Nordeste de Minas”.
E por que Teófilo Ottoni? Para entender a sua importância no contexto nacional, é preciso primeiramente situá-lo historicamente. Theóphilo Benedicto Ottoni nasceu no Serro, em 27 de novembro de 1807, e faleceu, em 17 de outubro de 1869, no Rio de Janeiro. Em sua época, existiam dois partidos políticos no Brasil, o Conservador e o Liberal. Os conservadores defendiam a centralização do poder na figura do Imperador D. Pedro II, enquanto os liberais defendiam  a autoridade e o fortalecimento dos poderes das províncias e dos municípios, mais sensíveis às reivindicações populares. Teófilo Ottoni foi um dos líderes da Revolução Liberal de 1842, em Minas Gerais, derrotado em Santa Luzia  pelas tropas de Luis Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias.
Discurso inflamado, pena afiada, escreveu para vários jornais e publicou o Sentinella do Serro, na linha do jornalista revolucionário Cipriano Barata. Em 1847, realiza a primeira viagem ao Vale do Rio Mucuri e funda a Companhia de Comércio e Navegação do Rio Mucuri, cujo objetivo principal era ligar o centro-oeste da Província de Minas Gerais ao litoral. Em 1853, iniciou o processo de exploração e colonização do Vale do Mucuri, fundando Filadélfia, hoje município de Teófilo Ottoni. Foi eleito algumas vezes para o Senado, mas somente conseguiu empossar-se senador depois de 1864, quando os liberais já contavam com a simpatia de Dom Pedro II. Nessa época, no entanto, já se encontrava cansado, sem recursos e com a saúde debilitada.
Está aí o porquê da Comenda Teófilo Ottoni e a relação dela com o Serro. A cerimônia foi presidida pela Secretária de Estado da Casa Civil e Relações Institucionais, Maria Coeli Simões Pires, no auditório da Pontifícia Universidade Católica, no Serro. A Secretária Maria Coeli, serrana agraciada com a medalha em 2007, ressaltou a importância da Comenda, criada com o objetivo principal de resgatar a memória do político e empreendedor Teófilo Ottoni. “Essa comenda faz justiça ao grande homem que foi Teófilo Ottoni e reacende a veia política não só dos serranos e também dos mineiros que se identificam com a bandeira da liberdade. Os homenageados estão comprometidos com a liberdade, os direitos fundamentais e o empreendedorismo”, ressaltou Dra. Maria Coeli, em seu pronunciamento.

Magda Mesquita Machado e Dr. Walter Machado

Entre os homenageados, importantes personalidades como Dr. Walter Machado, médico nascido em Piranguinho, no sul de Minas, que adotou o Serro como sua terra e há mais de 50 anos dedica seu talento profissional à região. Nesta longa trajetória, muitas famílias podem dizer que pais, filhos, netos e até bisnetos nasceram pelas mãos de Dr. Walter! Para arriscar um palpite, Dr. Walter estima que fez mais de cinco mil partos e incontáveis cirurgias apenas na Casa de Caridade Santa Tereza,  Hospital do Serro. Entre eles, os partos dos três filhos e de quatro dos cinco netos. “Esta homenagem me emociona pelo reconhecimento de um trabalho que realizei por amor à profissão”, aponta.
O juiz Márcio Idalmo entre suas ex-professoras,
Gracíola Terezinha Simões e Maria Isabel das Graças
de Almeida (E), e a mãe Maria da Conceição Santos

O Juiz Márcio Idalmo Santos Miranda, filho do Serro, também está entre os homenageados com a Comenda em 2011. Ele conta que, mesmo o destino tendo conduzido seus passos a outros horizontes, distantes das montanhas serranas, o Serro é a sua grande referência: “Os valores e princípios que recebemos em nossa terra nos guiam por toda a vida. Voltar às raízes serranas é sempre uma necessidade, uma busca de inspiração e de renovação de forças”.
Para o magistrado, a atuação de Teófilo Ottoni no cenário político nacional teve mais importância do que hoje se lhe atribui: “A Revolução Liberal de 1842, que o teve como líder, foi um dos embriões da República. Teófilo Ottoni, em seu discurso, em seus ideais e na sua prática de vida apregoava princípios republicanos. Foi um exemplo, para todos nós, como brasileiros. Foi alguém que nós, especialmente os serranos, devemos reverenciar sempre. Receber essa homenagem tem um significado ainda mais grandioso pelo vulto que a inspira”, completa. 

Os desembargadores Beatriz Caires e Tiago Pinto
A Desembargadora Maria Beatriz Madureira Pinheiro Costa Caires ressalta que a honraria a emociona como integrante do Poder Judiciário mineiro - juntamente com os Desembargadores Manuel Saramago e Tiago Pinto e o Juiz Márcio Idalmo - e também como uma homenagem às suas raízes serranas. “Tudo que é ligado ao Serro tem um significado muito especial para mim, toca o meu coração. Cresci ouvindo o hino do Serro ser cantado com orgulho nas reuniões familiares; me acostumei a ver a pintura da Igreja de Santa Rita na parede das salas das casas de meus avós, de meus pais e tias. Escutei as muitas histórias do povo Serrano, recheadas de religiosidade. A comenda significa um resgate destas raízes, da minha história, das famílias Silveira e Madureira Horta, que remonta ao patriarca Professor Madureira, meu bisavô, e a João Gabriel da Silveira Serrano, meu avô. Por tudo isto, só tenho a agradecer! Obrigada aos Serranos!”.
Duas instituições também foram homenageadas com a Comenda: o Jornal Estado de Minas e a Associação dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro, entidade com sede no Serro que se dedica à valorização do queijo artesanal. O presidente da Apaqs, Jorge Brandão Simões, que representou a entidade na cerimônia, acredita que a Comenda valoriza não só o trabalho da Apaqs, mas o seguimento que ela representa: “É um reconhecimento do Governo do Estado pelo esforço dos produtores no processo de valorização do Queijo Minas Artesanal”.
Entre outras importantes personalidades, foram agraciados com a Comenda Teófilo Ottoni o empresário serrano Vicente Nunes Mourão; o Médico Veterinário Mendelssohn de Vasconcelos e a Capitã PM Tânia Augusta da Silva. A Capitã Tânia conta que ser homenageada com a medalha tem um significado especial, já que o Serro foi a primeira cidade em que teve a oportunidade de ocupar um posto de comando na Policia Militar de Minas Gerais. “Quando estava no Comando da 144ª CIA pedia sempre a Deus forças, nosso trabalho não é fácil, Ele me dava problemas. Pedia amor, e Ele me dava pessoas que me ajudaram. Aprendi muito e, com a graça de Deus, venci. Não recebi de Deus o que eu pedi, mas o que precisava”, agradece.

O homenageado Vicente Nunes Mourão, ao lado da
filha Ariadna Lemos Nunes de Moura e Silva, Maria
dos Anjos Brandão Simões e Jorge Brandão Simões

A Capitã Tânia foi Comandante da 144º
Companhia de Polícia Militar, no Serro

O Médico Veterinário Mendelssohn de Vasconcelos,
 filho do saudoso Newton Vasconcelos, foi um dos
agraciados com a Comenda em 2011

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