quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

ABREM-SE AS CORTINAS


Senhora e senhores expectadores-aprendizes, o Ekos de Minas tem a honra de apresentar um exemplo de trabalho, dedicação e amor. Quem inspira esta abertura é o emocionado depoimento da amiga Rosinha Fagundes, que dedicou doçura e palavras solenes para homenagear este brasileiro como tantos, que afirmou seus passos com trabalho duro e uma crença: “o maior capital de um homem é o seu nome!”. O ilustre personagem que oferece sua experiência e sabedoria para sublimar as palavras que compõem esta entrevista é o segundo filho do casal Francisco José de Almeida e Ernestina Mafra de Almeida: Mário de Almeida. Nascido no município mineiro de Nossa Senhora do Porto, no dia 28 de outubro de 1918, Mário aprendeu com o pai os primeiros passos para uma vida de muito trabalho no campo. O amor, ele descobriu com sua “Diva” (Diva Pires de Almeida), aos 33 anos. E assim começa a história...

O começo
Nasci na Fazenda, mas meu pai vendeu a propriedade e, com 18 anos, caí fora. Queria ir para a Bolívia para trabalhar, como alguns companheiros que foram para lá, mas não deu para ir. Então fui para Caeté, trabalhar no alto-forno de ferro gusa, na Gorceix. Trabalhava só com serviço ruim. Então eu adoeci, fiquei com Tifo, e dois primos foram me buscar em Caeté, Geraldo Pires de Almeida e José Pires de Almeida. O mais importante é a quem eles me entregaram para ser cuidado em Belo Horizonte: Dr. Odilon Bérens. Dr. Odilon passava para me visitar, e olhava a medicação para ver se estava tudo certo: - Não fala que estou olhando a medicação. Saí uns dias antes de vencerem os dez dias que meus parentes pagaram no hospital, estava doido para ir para uma pensão e fui, ficava na Avenida Santos Dumont. Cheguei lá e a pensão estava paga por uns dias e tinha dinheiro também se precisasse. Fiquei até me curar e voltei para casa.

Trabalho
Já na região, um amigo meu, Celino de Ávila, que comprava ouro e diamante, mas o negócio estava ficando muito ruim, me convidou: - Mário, não estou achando pedra, diamante, nem ouro, você entende de gado? Eu falei: - Mais ou menos. -Vamos comprar gado de corte para levar e partimos o lucro para três. - Pode partir até para quatro! Vamos embora! E começamos. Depois o negócio ficou meio ruim, paramos, e comprei uma mula boa no Rio do Peixe (atual Alvorada de Minas). Os poderosos me ofereceram vaca: - Fiado eu compro, não tenho dinheiro não! Comecei a comprar para pagar na volta. Levava e vendia em Datas, sempre trinta vacas e tinha um companheiro que me ajudava. Vendia a dinheiro para os garimpeiros. Foi indo até que arrendei um pedacinho de terra. Depois comprei a primeira fazenda e comprei mais fazendas. Dei uma para cada filho. Tudo do meu trabalho. Então comecei com aluguel de casa.

O amor
Namorei uma moça bonita pra danar, estava com 20 anos. Não aguentei e a pedi em casamento, depois eu vi que não dava mesmo para casar. Felizmente, ela arrumou outro namorado bom para danar e se casou. Fui noivo de uma e casei com outra, 12 anos depois, mas namorada eu tinha muitas. Casei em 1951, foram cento e tantos cavaleiros. Dançamos a noite inteira. Essa eu não esqueço, lembro tudo, tim-tim por tim-tim. Nem posso contar tudo! Com vinte dias de casado estávamos em Belo Horizonte, ela com um cachorrinho e eu com um Código Civil debaixo do braço. Com um ano veio o primeiro filho. Tivemos cinco filhos. Fizemos bodas de ouro. Vinha tudo muito bem, mas depois que a Diva morreu mudou tudo. É tanto que eu tenho que estar trabalhando, dormindo ou ouvindo música, pensando na vida, dá vontade de sumir também. Ela fica nas minhas vistas, não sai. Ninguém acostuma com a morte, viu. Nem ficando como eu fiquei,14 meses, cuidando dela, sabendo que ela ia morrer. Eu me lembro do pai dela namorando a mãe. Eu ia pensar que eles iam arrumar uma filha para eu casar com ela? Peguei-a, com 18 anos, namoramos e casamos no dia 31 de julho de 1951, eu estava com a idade de Cristo, 33 anos, e Diva com 19. Sabe por que 31 de julho? Ou casava em setembro ou no fim de julho, que em agosto eu não ia casar!

O pedido
Eu tinha um primo, Geraldo de Almeida, que já morreu. Eu pedi casamento para ele e ele pediu para mim. Ele trouxe a resposta e começou a me contar como foi lá. Está tudo gravado, não esqueço, não. O Chico (Francisco Pires de Almeida), pai da Diva, chamou a Ester (Ester Pires de Oliveira) e disse: - Geraldo está aqui, pedindo Diva em casamento que Mário mandou. E a Ester falou: - Ela gosta muito dele. Ele, se está pedindo, é porque gosta muito dela. Ela está com 19 anos, idade para casar, e ele já passou! Conhecia a Diva desde menina, quase na barriga da mãe dela, mas me interessei por ela uma vez, comprando gado do Chico, comprei caro pra danar! Quando eu vi a Diva pensei, não vai ter jeito não. Com seis meses de namoro, pedi em casamento.

O Serro
Formei uma fazenda no município de Sabinópolis, em 1946, Fazenda São José do Quilombo, e desenvolvi muito. Houve certa ambição, tal coisa e tal. E teve alguém que aconselhou os outros a me amolar e tive que contratar advogado, teve até policia, mas provei que não tinha nada. Pensei bem: - Eu aqui estou sendo meio invejado e isso é ruim. Troquei a fazenda de lá por uma no Serro em 1958. Eu não queria brigar com ninguém.

Caráter
O maior capital de um homem é o nome dele. O sujeito deixava de vender para um rico para vender para mim, quando era o caso. Trinta dias não são trinta e um dias para pagar. Nunca perdi dinheiro em nada! Estou aqui com 93 anos e ninguém aqui trabalha mais do que eu! Para os meus filhos não dou conselhos, dou exemplo. Faz o que eu fiz que vai dar certo. Trabalhar e andar direito. Não minto também não. Um homem não precisa mentir. Mas também tem uma coisa. Eu não esqueço o bem que me fazem não. Graças a Deus sou muito feliz com as amizades. Graças a Deus tenho que dizer que sou um homem feliz e realizado. Amizade ninguém tem mais que eu. Não posso sair a pé, custo a chegar ao fim da rua!


Mário e Diva em Lua de Mel na Capital


 

Um comentário:

  1. Bela entrevista com o Sr. Mário Almeida. É um homem admirável, de uma família muito querida. Parabéns, Maira, ficou também muito bem escrito, uma beleza de trabalho jornalístico. Abç.

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