sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

“O OXIGÊNIO PARA VIVER É O MEU TRABALHO”

Em 19 de maio de 1942, nascia José Reis Junior, primogênito do casal José dos Santos Reis e Maria Eugênia Dumont Reis. Hoje, o senhor de 70 anos ensina serenidade. A vida reservou a José Reis grandes desafios, a experiência bem vivida passa pela morte prematura do pai, desfiles de Carnaval e muita vida. Assumiu a família ainda menino e trabalhou duro para manter a mãe e os dez irmãos. Parou de estudar para se dedicar ao labor, mas garantiu formação superior aos irmãos, que se tornaram médico, engenheiro, dentista, professor, administrador, advogado. Casado com Terezinha Marly de Miranda Reis e pai de cinco filhos (Fernado, Luciano, Thais e as gêmeas Eliana e Elisa), José Rela - apelido que ganhou na época da escola - esbanja sabedoria. 




Trabalho
Minha historia é longa, mas é fácil resumir. Quando meu pai morreu, em 1960, eu tinha 17, 18 anos e dez irmãos menores. Fui obrigado a parar de estudar para assumir uma nova vida, tive que trabalhar para sustentar a família. Entre minha mãe, uma empregada de muitos anos, eu e os irmãos, éramos treze. Minha mãe me entregou a chave do comércio do meu pai e comecei vendendo tecidos e calçados. Por volta de 1985, montei minha empresa de show pirotécnico. Antes, em 1972, morreu um fazendeiro muito nosso amigo na região e fui a Diamantina buscar uma urna para ele. Voltei quinze dias depois para pagar a urna e pedir que ele me desse o endereço de uma fábrica. Ele não quis me entregar na hora, mas com um espaço de tempo ele me deu o telefone de uma fábrica e eu comprei cinco urnas. Lembro que, na época, minha mãe disse: - Meu filho, você está agourando o povo do Serro. Dois dias depois vendi uma urna. Se você me perguntar quem morreu ontem, não me lembro, mas desta não me esqueço: Dona Josefina, diretora de um grupo em Alvorada de Minas. Pode estar chovendo, fazendo calor, dia, noite, não tem horário. Estamos sempre com o celular ligado, de plantão, prontos para atender. O oxigênio para viver é o meu trabalho.

Casamento
Conheci a Marly e, em dezessete anos, namoramos e noivamos. Ela disse: - Você está me enrolando. Eu disse: - Eu tenho um irmão que está fazendo medicina - eu gastava com ele como se fossem hoje R$5 mil mensais. Ele se formando, você pode arrumar tudo que nós nos casamos. No mesmo ano em que meu irmão se formou, eu me casei. Hoje, tenho 39 anos de casado e cinco filhos. Dos meus irmãos, eu perdi um, o Toninho, ele era Engenheiro Civil. 
Vida 
A vida é muito boa. É como meu pai falava: - No dia em que eu morrer eu vou triste, porque a coisa aqui é boa. Eu não quero morrer não. A morte é uma coisa muito estranha, quem vai não volta para contar o que é. Não sei informar quantas pessoas já enterrei, mas ninguém voltou. Me perguntam: - Você não tem medo não? A gente tem que ter medo é de quem está vivo, quem morreu não volta mais. Nunca tive medo de quem se foi. Quando perdi meu pai, pedia para ele aparecer para mim, ficava em um lugar sozinho, escuro e ele nunca apareceu. A morte é tão normal quanto nascer, mas ninguém aceita. Os minutos e a vida passam rápido.

Carnaval 
Em 1950, meu pai dominava o Carnaval. Eu era muito menino e me lembro dele levando minha mãe para o Clube. Isso fica no sangue. Meu pai era muito alegre. Depois que ele morreu, ficamos muito tempo sem mexer com Carnaval. Mas os serranos me cobravam muito e nós voltamos. Mantivemos a tradição, por uns quinze anos. Então, a gente sem querer muda, vai ficando mais velho e passa a cansar, não querer tumulto. Sinto saudade, quando vejo uma escola muito boa, lembro do tempo da gente, mas a vida é passageira aqui. 

Legado
Minha mãe foi a primeira “mulher” que eu tive. Casei duas vezes: com a minha mãe e com a minha esposa, Marly. Foi muito boa mãe. Ela morreu, há dez anos. Convivemos por 40 anos. Quando meu pai morreu, ela me deu a chave da loja e as coisas pessoais dele e, eu tenho isso guardado no meu cofre, até hoje. Eu não tive infância, não jogava futebol, meu negócio era o trabalho. Sempre convivi com pessoas mais velhas do que eu.  A pessoa tem que saber viver, é lógico. Se você quer mudar sua vida, é preciso responsabilidade. A pessoa cai e sobe, mas para cair é muito rápido. Para construir uma vida é muito tempo, para destruir, uma semana. O melhor do ser humano é a cabeça, tendo a cabeça boa o resto está bem. Falo demais com meus filhos, respeito é muito importante. Nunca abuse das pessoas. Respeito é tudo. O mal está sempre perto, você tem que saber viver nesta terra.

Morte
Minha mãe teve um derrame e estava ao lado do meu irmão médico. Levamos minha mãe ao hospital e ela ficou 15 dias internada em Belo Horizonte. Já sabíamos que ela iria morrer. Queria fazer um enterro decente para ela e mandei buscar a urna que eu queria aqui no Serro. Acompanhei todo o preparativo do corpo, eu mesmo a maquiei. Esse dia precisei tomar calmante. Fiquei muito baqueado e, depois de uns três dias, precisei procurar um médico. Quando é seu sangue, a coisa muda. Na hora você acha que aguenta, eu aguentei, depois a ficha vai caindo. Quero que me enterrem junto com ela. Perdi meu pai, Toninho e minha mãe. Construí a morada eterna da família no cemitério do Serro. A morte é uma ida sem volta. É a sequência da vida. 

O apelido
Eu estava com seis, sete anos e meus avós, que eram fazendeiros no Deliz, vinham para o Serro e ralavam o queijo na casa da minha mãe, que geralmente guardava a rala do queijo e punha no pão para eu levar  de lanche para o Grupo. Eu muito menino, punha o pão na carteira e os meninos me roubavam a rala. Com seis, oito meses já estava com o apelido: o menino da rala, José Rela.



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