sexta-feira, 11 de abril de 2014


Vontade de abstração. Desejo de conceituar o aparente. A inerente contestação observa o desdobramento do óbvio e encontra eco em outras vozes. Aqui, o Ekos de Minas desperta para o olhar de Danilo Arnaldo Briskievicz, serrano graduado, pós-graduado e mestre em filosofia. Autor de livros e textos de história, de fotografia, de filosofia e de poesia.
No livro de fotografias Serro Olhar, Danilo desvenda o Serro antigo, preservado desde 1938, “das interferências do tempo” e convida a uma reflexão sobre a cidade: “Será que olhamos para a mesma cidade de 1938?”. “Definitivamente, não”, constata Danilo. “Os lotes superpovoados, divididos entre três, quatro famílias. A frota de carros pequenos e grandes tomando todo o espaço de fruição da vida. A necessidade comercial acima de qualquer aspecto de gentileza urbana. As praças utilizadas como espaços para lazer viram quadras de futebol. Os carros em som estonteante teimam em lembrar que o tempo é outro. O que mudou, então, a cidade ou as pessoas?
Definitivamente, as pessoas. São os moradores que optam por fazer a sua cidade. Pintam suas casas. Deixam suas antigas moradias ruírem. Ocupam o espaço público sem a preocupação com o coletivo. Aceleram seus carros e ligam seu som sem se lembrarem de que a vida coletiva é uma herança para todos. Assim, olhar o tempo em Serro, agora, impressiona. As pessoas vivem como se quisessem estar numa cidade grande.  O ritmo de vida assim se desenha catastrófico. A cidade foi inventada para pessoas em ritmo de convivência gentil. A mesma gentileza que vemos em algumas observações: os lindos jardins do Machadinho e do Paneleiro mostram que a gentileza urbana independe de recursos financeiros. Os meninos jogando bola no Morro da Páscoa sabem que a cidade ainda é um espaço para a alegria.
Olhar o Serro. Serro, olhar. Olhar para a cidade e se enxergar no tempo que passa com suas controvérsias. Tarefa difícil para o fotógrafo que nasceu na cidade onde o tempo não muito distante pulsava ainda o barroco. Até quando vamos ver no Serro o tempo que não passa? É bom registrar agora o olhar. Nesse olhar de quase desencantamento buscar a cidade setecentista inventada para ser eterna”.



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